Boa Tarde!
Revendo os postais que fui encontrando e gravando com o tempo, me deparei com essa coleção (ou uma parte dela) de cartões postais da Fazenda Guatapará.
Não é incomum encontrar coleções (séries) de cartões postais que retratam mais do que a cidade. Existem diversas séries sobre o interior retratando os campos, as plantações, as fazendas e principalmente o astro da época: o café. O que me chamou a atenção nessa coleção e que me fez saber mais sobre a Fazenda Guatapará, foi quem registrou e produziu a coleção, Guilherme Gaensly (1843-1928) Suas coleções costumam ser extensas.. dessa eu encontrei apenas os postais de número 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 15.
A Fazenda Guatapará consistia em seis mil alqueires e recebeu este nome devido ao Córrego chamado Guatapará que lhe corta as terras. Tal propriedade foi adquirida por Martinho da Silva Prado (1811-1891) por uma quantia de aproximadamente 60 contos de reis e pertencera, até então, a João Franco de Moraes Otávio.
A Guatapará contribuiu muito para essa efervescência da produção cafeeira, sendo considerada uma das primeiras fazendas organizadas nos moldes empresariais. Por algum tempo ela foi administrada pelo próprio Martinico, que pouco depois passou a exercer seu poder indiretamente, pois passou a administração dessa propriedade a um amigo, o italiano Giusepe Sartori, que assumiu diretamente as finanças da fazenda.¹
No blog do Giesbrecht, existe uma matéria (que você pode conferir clicando no link) completa e detalhada sobre a Fazenda, tomo emprestado partes do texto:
“A Fazenda refletia o pensamento de seu fundador: o conceito moderno de terra – terra cultivada, dos seus 6.268 alqueires, 1.111 eram cultivados, tinha 56 trabalhadores brasileiros para 1.610 imigrantes. Valia 6.616 contos de réis, enquanto a fazenda tinha sido comprada por 70 contos de réis passou a valer noventa vezes o preço de compra.
As terras da fazenda eram distribuídas. Assim, 2.688 ha eram cultivados em café; 480 ha em cereais e 48 ha em cana de açúcar. Por aí, se percebe o predomínio do café, produto destinado à exportação. Os demais produtos eram usados na pequena fazenda e o restante era vendido.
Para manter essa imensa cultura, era necessária muita gente e uma forte estrutura. A grande propriedade era dividida em quatro grandes seções: Marco de Pedra, Brejão Grande, Monteiro e Guatapará, possuindo no total 500 edifícios, destinados à casa dos diversos diretores, máquinas de café, oficinas, depósitos, farmácia, hospital, cocheiras e um grande número de casas dos trabalhadores. Cada seção era organizada de tal maneira que havia tudo para o seu custeio e vida própria. Segundo a revista Brasil Magazine: “É somente na parte administrativa que ellas estão todas ligadas a sede central que é Guatapará e que em meio dellas faz o papel da capital de uma pequena e bem ordenada federação”.
Na Guatapará, encontram-se algumas fábricas: uma de cerveja, uma de água gasosa, duas de tijolos e de ladrilhos. Elas fornecem seus produtos para as fazendas vizinhas, também para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Há também um curtume de peles.
O sistema de transporte da fazenda era um dos mais modernos. As linhas da Mogiana passavam dentro da fazenda, onde havia uma estação junto à sede administrativa, perto da máquina de beneficiar e dos terreiros, e, em 1911, havia um ramal ferroviário particular para o trabalho exclusivo da grande lavoura. O transporte de café para vagões da estrada de ferro era feito por 20 carroções com 150 mulas.”²
Em 1938, o governo federal determinou que Estados e municípios regularizassem e demarcassem suas divisas. Coube ao então prefeito de Ribeirão Preto, Fábio Barreto, em 30 de novembro do mesmo ano, criar o distrito de Guatapará, com sede localizada na fazenda onde permaneceu na fazenda até 1962. Neste ano, a sede do Distrito foi transferida para a parte fronteiriça à estação de Guatapará na época servida pelas Estradas de Ferro Paulista e Mogiana.
Em 1989, por meio de plebiscito, o povo de Guatapará decidiu pela emancipação do Distrito. Com isso, surgiu o município de Guatapará. Entretanto, somente em 1992, com eleições simultâneas em todo o país, a cidade pôde eleger o seu Prefeito e os seus Vereadores, os quais tomaram posse em 1993.³
Da fazenda, considerada um colosso de modernização e produção, só restaram as lembranças dos postais e das memórias encontradas na internet. Quase tudo foi demolido, incluindo a casa-sede.
No Blog do Ronco, tem uma matéria bem interessante, como fotos das ruínas do local atualmente, vale conferir.
ATUALIZAÇÃO 20.03.2018
O leitor Reginaldo, nos deu informações bem importantes: a foto que eu havia publicado, com os japoneses nos anos 1960, na verdade é do ano de 1933, quando da visita do Embaixador do Japão à fazenda. O local tinha tanta importância, que além do Embaixador japonês, a fazenda uma década antes havia recebido Santos Dummont.
O Reginaldo também indica um site, com mais fotos e memórias da fazenda, Blog Itália Guatapará
Obrigado Reginaldo!
Fontes consultadas:
¹ http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao35/materia05/
² http://blogdogiesbrecht.blogspot.com.br/2010/08/fazenda-guatapara.html
³ https://www.familysearch.org/wiki/pt/Guatapar%C3%A1,_S%C3%A3o_Paulo_-_Genealogia
4 http://blogdoronco.blogspot.com.br/2017/12/uma-viagem-no-tempo-fazenda-guatapara.html
Alo, Felipe,
Aquela foto com os japoneses na frente da sede da Fazenda Guatapará não é da década de 1960. Pelos carros e pelo vestuário, percebe-se mais antiga. Para ser mais preciso, a foto é de 1.933, quando da visita do embaixador do Japão à fazenda.
No blog de Italiaguatapará vc buscará outras fotos muito interessantes. Ex., o Santos Dumont visitando a fazenda em 1922, etc. (Italiaguatapara@gmail.com)
Tomei a liberdade e lhe passo algumas fotos colhidas no referido blog, que, por sua vez, também as garimpou na internet e demonstram a grande importância daquele empreendimento na sua época.
Abs
Reginaldo Martins
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
O Palacete de Fazenda Guatapará
A Fazenda Guatapará tinha duas casas-sede. A “antiga”, e o palacete. Conversando com meu tio, relatou-me que a antiga quando desmanchada revelou esqueletos em seu contrapiso. Ou seja, em uma época em que a melhor maneira de se livrar dos inimigos era matando-os, quer melhor maneira de esconder os cadáveres dos inimigos importantes? Quem teria coragem de revistar a residencia do fazendeiro?
Agora o palacete. Que construção incrÃvel. Eu não entendo muito de arquitetura, mas parece ser bem europeu o desenho. Lembrava algo francês, algo Lombardo. Enfim, era bonito pra caramba.
As fotos aqui em sua maioria foram obtidas na internet. Para ilustrar a importância da Fazenda e de sua sede, observem essa foto de 1933, quando o então Embaixador do Japão visitou a Fazenda:
O Rei Albert da Belgica plantando uma muda de árvore em seu jardim em 1920:
Uma comitiva francesa
Outro grupo de pessoas numa foto de 1917, no inicio de sua escadaria:
E Santos Dumont em uma visita em 1922:
Sua demolição faz parte da tragédia que envolve a falta da Fazenda. Outra foto antiga do palacete:
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Olá Reginaldo.
Agradeço a correção das informações. Deixarei o site indicado nas referências. As fotos, infelizmente não vieram junto dos comentários.
Um abraço!
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Muito boa matéria Felipe. Nunca tinha visto vários destes postais. Parabéns.
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Obrigado Luis Eduardo!
Grande abraço!
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Fazenda Guatapará, nunca tinha ouvido falar, mas gostei do relato. É pena que muitas destas fazendas despareceram sendo rateadas em lotes. Lamenta-se também o sumiço das estradas de ferro. Veículos estes que já levaram muito progresso, hoje enferrujando ao longo dos trilhos abandonados. Porque não as tornam pelo ao menos em vias turísticas a exemplo de Curitiba/Morretes?
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Existem muitos interesses escusos por trás do descaso com o patrimônio.
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Conheça mais sobre a Fazenda Guatapará:
https://www.facebook.com/FAZ.GUATAPARA/
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Oi Joelma.
Desculpe por tenta demora na resposta.
Tem uma colega carioca que é tataraneta dele. Chama-se Conceição.
Se desejar envie um e-mail para sampahistorica@gmail.com e vejo de você entrar em contato com ela. Ela tem um bom conhecimento sobre.
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Minha mãe nasceu nessa fazenda, cresci ouvindo histórias sobre ela. Tanto que em uma viajem a trabalho passei pela cidade e conversei com pessoas da época e com o padre que me mostrou na igreja algumas janelas que eram da antiga igreja da fazenda!
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cresci andando de bicicleta pelas ruinas da fazenda.. explorando o meio do mato e encontrando vestigios.. 16988023730
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Olá Felipe, gostaria de saber sobre permissão de uso de imagens dessas fotografias antigas…posso lhe explicar o motivo caso me envie um email. Tenho um projeto que acho interessante poder usá-las.
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Olá Andreza,
As fotos eu encontrei num site de leilão, da minha parte pode usar sim, só peço pra citar o nome do blog com o fonte. Se precisar de algo mais, só enviar mensagem.
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Quanto ao nome Fazenda Guatapará, ela não se originou de um córrego que corta a Fazenda, mas, sim, de um cervo de pele manchada muito comum na região e hoje espécime extinta. Morei nessa Fazenda de agosto de 1.951 até o final de 1.986.
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Meu pai nasceu nessa fazenda e foi registrado em Ribeirão Preto!Faz tempo!
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Chegeui aqui por descobri que minha avó foi batizada na capela que existia dentro desta fazenda em 1909
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