Militão

Bom Dia!

Ontem, por ocasião do Dia do Fotógrafo, publicamos em nosso perfil do Facebook uma homenagem a três dos grandes fotógrafos da paulicéia. Duas dessas publicações são aqui do blog, e vocês podem conferir nesse link e nesse outro aqui. A terceira, segue agora para os leitores do blog:

Militão Augusto de Azevedo nasce no Rio de Janeiro, mas vive boa parte de sua vida em São Paulo, onde morre em 24 de maio de 1905. Antes de se dedicar à fotografia, Militão é ator de teatro. Trabalha no Rio de Janeiro, em diversas companhias, como a de Joaquim Heleodoro, entre 1858 e 1860, a Companhia Dramática Nacional, entre 1860 e 1862, e a de João Caetano, em 1869. Em 1862, muda-se para São Paulo e deixa em segundo plano a carreira no teatro. Encontra na fotografia uma forma mais rentável e segura de ganhar a vida. Passa a trabalhar como fotógrafo na Photographia Acadêmica de Carneiro & Gaspar.

Militão Augusto de Azevedo

É um dos retratistas da fotografia brasileira oitocentista mais produtivo, tendo realizado comprovadamente mais de 12.500 retratos ao longo de seus 25 anos de carreira, em formatos, tamanhos e preços variados, para atender diversos clientes contaminados pela “febre” de se fazer fotografar.

É como paisagista, no entanto, que se notabiliza, em virtude do Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo: 1862-1887, no qual contrapôs vistas dos mesmos logradouros realizadas nessas duas datas, criando assim um modelo de fotografia paisagística urbana de enfoque comparativo. Militão realiza várias tomadas de São Paulo. São suas as primeiras imagens fotográficas da cidade, fundamentais para a compreensão do espaço urbano na época. Registra a cidade colonial, suas vielas e largos, principalmente a mancha urbana situada entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, com destaque para o Largo São Francisco, o Largo da Sé, a Rua Direita, além dos caminhos que levam a Santos e ao Rio de Janeiro. Também fotografa as obras de implantação da ferrovia São Paulo Railway e a cidade de Santos.

Nota-se em seu trabalho a preocupação com as vistas panorâmicas. Suas tomadas são realizadas com base em pontos que possibilitam uma visão abrangente, podendo muitas vezes ser encaixadas para formar um todo contínuo. Para produzi-las utiliza o negativo de vidro de colódio úmido, cuja revelação deve ser feita logo após a tomada fotográfica, e o papel albuminado para os positivos – usa o albúmem produzido da clara de ovo. A revelação é feita em laboratório móvel instalado junto à câmara.

Em 25 de novembro de 1875, Militão Augusto de Azevedo compra a Photographia Acadêmica de Joaquim Feliciano Alves Carneiro, que passa a se chamar Photographia Americana. O estúdio, considerado o estabelecimento fotográfico mais importante da cidade, tem por atividade básica o retrato e está estruturado de forma a atender ao gosto do cliente. Instalado em um sobrado, tem vários ambientes e um bom salão para poses, com diversos equipamentos fotográficos, mobílias finas e raras, bibelôs e adornos. Passam por seu estúdio figuras tradicionais da sociedade paulistana, tipos populares, crianças, coristas, estudantes da Faculdade de Direito e até o imperador Dom Pedro II (1825 – 1891).
No ano de 1885, por dificuldades financeiras, Militão fecha a Photographia Americana, mas não deixa de fotografar. Passados 25 anos de suas primeiras tomadas da cidade, realiza o Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo (1862-1887), em que registra vários locais fotografados anteriormente, tomados do mesmo ângulo, o que possibilita acompanhar as transformações urbanas, arquitetônicas e sociais ocorridas. O trabalho é composto de 60 fotos das quais 18 são pares comparativos. O próprio fotógrafo declara: “…eu quis despedir-me da fotografia fazendo o meu álbum Comparativo de São Paulo de 1862 a 1887. Parece-me um trabalho útil e talvez o primeiro que se tem feito em fotografia, porque ninguém terá tido a paciência de guardar clichês durante 25 anos”.

Seu álbum transcende o mero aspecto documental quando se leva em conta que, por trás da simples junção de duas imagens de um mesmo local, conseguidas com anos de diferença, se ampliam as potencialidades espaço-temporais da imagem fotográfica. Explorando a fotografia como um “quase-cinema”, aquelas fotos em dupla, além de documentar as transformações da metrópole, atestam o orgulho positivo do cidadão diante da cidade, que progride a olhos vistos e às novas tecnologias, que permitem registrar tal progresso de maneira supostamente objetiva e fiel.

Em 1996, o Museu Paulista adquire os álbuns de registro de clientes da Photographia Americana, em poder dos descendentes de Militão.

Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural.

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